16º DOMINGO DO TEMPO COMUM – C

16º DOMINGO DO TEMPO COMUM – C

O ser humano, hospedeiro de Deus

lu 10

Em todas as civilizações antigas, especialmente entre os povos nômades, a hospitalidade é sagrada, é ato religioso. Não fosse a hospitalidade, os deslocamentos do viajantes seriam quase impossíveis, na Antiguidade.  Mas, o Povo de Israel, fazendo a experiência de ser hospedeiro de Deus, dá outro sentido à hospitalidade, à luz da fé. O povo, relembrando que foi estrangeiro e escravo no Egito, relê sua história numa perspectiva libertária, compreendendo que sua caminhada na terra (deserto) é passageira e que todos somos peregrinos e estrangeiros nesse mundo, rumo à Pátria definitiva. Jesus-hóspede, com sua presença em nosso meio, é um sinal vivo do amor que Deus tem para conosco; no fundo, é um convite à conversão. Hospedar e comer com Jesus é ter os mesmos sentimentos d’Ele, estar aos seus pés e escutar a sua Palavra.

1ª Leitura (Gn 18,1-10a)

O trecho, exemplo para o tema da hospitalidade, narra o acolhimento feito por Abraão a três homens, costume comum entre os nômades daquela época. A atitude de Abraão, de acolhida e bondade, permite que ele veja nos hóspedes sinal da presença de Deus: “…não esqueçais a hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem saber, acolheram anjos.” (Hb 13, 2). O texto, que à primeira vista é uma simples narração de acolhimento, toma um caráter de manifestação de Deus na vida humana, no sentido mais profundo da hospitalidade, que gera frutos: “Voltarei, sem falta, no ano que vem, por este tempo, e Sara, tua mulher, já terá um filho” (v.10a).

2ª Leitura (Cl 1,24-28)

Paulo encontra alegria nos sofrimentos suportados por causa de Jesus Cristo, já que tem consciência de que desde que foi chamado por Ele, a Cruz lhe foi apresentada para segui-lo até o fim da caminhada. À medida que o apóstolo é chamado a completar a Palavra (v. 25) ele é destinado, como consequência, a sofrer até o fim as tribulações de Cristo (angústias, fraquezas, perseguições…). São também os nossos sofrimentos, dos discípulos e discípulas de Cristo, apaixonados por Ele, quando assumimos verdadeiramente a nossa missão de batizados.

Evangelho (Lc 10, 38-42)

O trecho de hoje – assim como o de domingo passado – situa-se no coração do evangelho de Lucas, a “Subida de Jesus para Jerusalém”.  Primeiramente, sentar aos pés de Jesus é uma atitude do discípulo aos pés do mestre. É típico de Lucas. (Lc 10,39 ; At 22,3). Mas o que escutamos hoje não é uma oposição entre “contemplação” e “ação”, revelada nas atitudes de Marta e Maria.  A questão de hoje é: receber Jesus de verdade, preencher nosso coração com o que mais importa, a sua presença salvadora.

Hospedar verdadeiramente uma pessoa não é somente arrumar sua cama, pôr à mesa e depois ausentar-se. Isso quem faz são os funcionários de um hotel. Acolher de coração implica numa empatia com o hóspede. Para acolher Jesus verdadeiramente, é preciso escutá-lo, manter intimidade com ele. Como posso agir em conformidade com sua Palavra, se não a escuto? Escutar é um exercício. Algumas vezes nossas orações, nossas liturgias, nosso mundo, são muito barulhentos, nós falamos muito; não damos espaço para que Deus possa falar no silêncio.

Na realidade, a atitude de Maria não é uma contemplação passiva. É uma atitude de escuta da Palavra que chama para a Fé e para o engajamento.

 

[1] Glêvison Felipe é diácono permanente da Arquidiocese de Belo Horizonte.

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