Roteiro Homilético: Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo – A

Roteiro Homilético: Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo – A

por Diac. Ir. Marcus Mariano, NJ*

 

A solenidade de Cristo Rei é a despedida da Igreja de mais um ano litúrgico e o início da preparação, com o tempo do advento, para a vinda do Senhor.

A festa de Cristo Rei teve sua origem em um período conturbado da história, no qual os países da Europa sofriam ameaças de guerras. Pio XI decretou essa festa (Encíclica Quas primas de 11 de dezembro de 1925) com o intuito de proclamar a realeza de Cristo, rei-servo e vencedor do ódio pelo seu gesto amoroso de entrega na cruz, contrastando o reinado de Cristo com os domínios daquele tempo. O papa desejava que a celebração litúrgica trouxesse consequências maiores do que um documento do magistério e produzisse um efeito espiritual para os fiéis.

Encerrar o ano com esta solenidade significa celebrar Cristo como ponto de convergência do ano litúrgico, da história humana e da nossa vida espiritual. Ao mesmo tempo temos o encerramento de um ciclo litúrgico e o início de outro, a centralidade do mistério de sua vida para nossa existência e a recordação de que sua vinda gloriosa se aproxima a cada dia. Ele é “o alfa e ômega, o primeiro e o último, o princípio e fim” (Ap 22,13), o “autor e realizador da nossa fé” (Hb 12,2).

1º Leitura (Ez 34,11-12.15-17)

O profeta Ezequiel exerceu seu ministério no período do exílio babilônico, foi sacerdote (1,3) e tem enorme preocupação com o templo (8;10;40-42).

O presente texto retoma a censura contra os crimes dos líderes religiosos e políticos daquele tempo e descreve a solicitude de Deus para com seu povo, sob a imagem do pastor que cuida do seu rebanho. Deus mesmo procurará e resgatará o povo eleito, para apascentá-lo e fazê-lo repousar.

No último versículo (34,17), o autor também diz que Deus julgará (fará justiça) as ovelhas e os carneiros e bodes. O discurso do evangelho é a realização desse julgamento, no qual Deus acolherá as ovelhas que se deixaram cuidar por ele e fizeram o mesmo com os irmãos.

2º Leitura (1 Cor 15, 20-26.28)

A comunidade de Corinto não aceitava facilmente a ressurreição dos mortos. O capítulo 15 da primeira carta constitui a argumentação de Paulo para os coríntios acerca da ressurreição: assim como Cristo ressuscitou dentre os mortos, da mesma forma, nós ressuscitaremos com Ele. “Se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa fé” (15,14).

O trecho dessa liturgia (15,20-26.28) apresenta Cristo como as primícias dos que ressuscitarão. Comparado com Adão, que trouxe a morte, Cristo traz a vida nova e a ressurreição. Ele é o primeiro, seus seguidores o sucedem, participando da mesma sorte, até que seja vencido definitivamente o último adversário: a morte. Então, Deus será tudo em todos (15,28).

Nós que vivemos em Cristo, possuímos aqui a glória da ressurreição, no entanto, ainda não plenamente. A cada jornada passada ficamos mais próximos da consumação final, na qual se manifestará a nossa identidade definitiva de filhos de Deus, à semelhança do Filho (cf. 1Jo 3,2).

Evangelho (Mt 25,31-46)

O evangelho que se proclama nesta solenidade é a conclusão do discurso escatológico (24-25), no qual Mateus descreve metaforicamente a vinda do Filho do Homem e o julgamento definitivo dos povos.

Desde a introdução da perícope (25,31-33), aparece o tema da presença definitiva de Deus para toda a humanidade. A imagem fundamental de Deus como pastor e juiz é tirada de Ez 34, 17-22.32-33. Então, as ovelhas que estão à direita receberão a herança prometida do reino porque fizeram as “obras de misericórdia” para os famintos, sedentos, estrangeiros, despidos, enfermos e encarcerados, porque quando se faz qualquer uma dessas coisas a algum dos “irmãos pequeninos” (25,40) é a Cristo que se faz. Do contrário, rejeitar a um desses “pequeninos” é rejeitar a Cristo, consequentemente, experimentar o castigo eterno, enquanto os justos irão para a vida eterna.

O texto sublinha que o amor fraterno é elemento decisivo para o julgamento final, pois Jesus se identifica com aqueles que padecem as mais elementares necessidades humanas. Cada encontro com Deus, inclusive na liturgia, é um juízo, um convite para a acolhida ou rejeição dos sofredores que se apresentam a nós nas diversas circunstâncias.

Sendo o último domingo do tempo comum e o encerramento do ano litúrgico, a liturgia nos convida a reconhecermos a verdadeira majestade de Cristo, olhando para sua própria vida de oferta de si ao Pai e aos irmãos, principalmente aos mais necessitados e socialmente excluídos.

Jesus reinou sendo servo e entregando sua vida em resgate de muitos. O trono foi a cruz, sua coroa tecida de espinhos pontiagudos, os súditos o traíram e fugiram, a entronização foi ao lado de ladrões, as vestes reais são a sua pele chicoteada e o seu discurso de rei: “meu Deus, meu Deus porque me abandonastes” (Mc 15,34). Entretanto, o mais profundo esvaziamento de si é correspondido pelo Pai, que lhe confere o nome superior a todo nome (Fl 2,9-11), diante do qual tudo se curva e se proclama seu senhorio.

Num tempo de tantos impérios, domínios e realezas; numa cultura de valorização de bens materiais e desconhecimento do real amor, proclamamos o reinado de Deus, que é amor, por meio de nossos gestos de misericórdia, reconhecendo Cristo nas pessoas sofredoras e permanecendo à direita de Deus, escutando sempre: “vinde benditos de meu Pai” (Mt 25,34).

 

* Graduado em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), onde também cursou mestrado  em Teologia Bíblica. Atualmente é diácono e prepara-se para ser ordenado presbítero ainda este ano.

 

 

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