AS MINHAS OVELHAS ME SEGUEM E EU LHES DOU A VIDA ETERNA
I. INTRODUÇÃO GERAL
O simbolismo do pastor guia do rebanho exprime idéia de autoridade e companheirismo. A autoridade é baseada numa relação afetiva. Há um conhecimento mútuo. É baseando-se nesses aspectos cotidianos da vida pastoril, que a bíblia destaca, primeiramente, Deus como pastor de Israel. Depois, Jesus como pastor de todos os seres humanos.
II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS
1. Evangelho (Jo 10,27-30): Ninguém tira minhas ovelhas do meu rebanho
Nesse 4º domingo da páscoa vemos novamente a temática do pastor e das ovelhas. Jesus é o verdadeiro pastor. Ele conhece as suas ovelhas. Estas escutam sua voz e o seguem. O seguimento só é possível para aquele que reconhece a voz do ressuscitado. Aqueles que seguem o ressuscitado têm a “vida em seu nome”, receberão a vida eterna. Não perecerão, conforme Jesus afirmou no discurso da despedida (Jo 13,12-15).
As ovelhas não podem ser arrebatadas da mão de Jesus, porque foi o próprio Pai que lhes deu. E as obras de Jesus revelam a vontade do Pai, porque eles constituem uma unidade. É essa unidade a fonte da força de Jesus. E essa força é transmitida àqueles que recebem a vida de Jesus. Por isso o mundo não pode arrebatar aqueles que são de Jesus.
2. I Leitura (At 13,14.43-52): Os gentios são as novas ovelhas no aprisco
Uma grande multidão se reuniu para ouvir a Palavra de Deus (v. 44). O texto afirma que, vendo a multidão, os adversários de Paulo ficaram cheios de inveja e, insultando-o se opuseram ao que ele dizia. A menção desse acontecimento tem como objetivo chegar à declaração que o evangelho foi anunciado primeiro aos judeus, mas já que estes o recusaram, a boa nova foi levada aos gentios.
A decisão de proclamar o evangelho entre os gentios fundamenta-se numa ordem do Senhor (At 13,47; Is 42,6; 49,6). A decisão de voltar-se para os gentios deu a eles grande alegria (v. 48). Contudo, os adversários de Paulo não ficaram passivos, valeram-se da simpatia de algumas mulheres de alta posição social, que induziram os magistrados da cidade a expulsar Paulo e Barnabé.
Ao saírem da cidade, os apóstolos realizaram o gesto simbólico de sacudir a poeira dos pés. Antigamente esse gesto era realizado pelos judeus quando vinham de outras nações para Israel. Como os gentios eram considerados impuros, os judeus ao entrarem na Terra Santa, sacudiam a poeira das terras estrangeiras que traziam nas sandálias. Ao realizar esse gesto contra os judeus que o perseguiram, Paulo mostrou o contrário.
3. II Leitura (Ap 7,9.14b-17): Diante do Cordeiro-pastor há uma multidão vinda de todas as nações
João viu uma multidão incontável, de todas as etnias, diante do trono do Cordeiro. As palmas que traziam nas mãos evocam aquelas que eram usadas na liturgia judaica da Festa da Tendas (Lv 23,40) para louvar o Deus de Israel.
As vestes brancas, alvejadas no sangue do Cordeiro (v. 14) significam que os mártires permaneceram puros, não se deixaram contaminar seja pela idolatria ou pela apostasia e por isso, sofreram a morte. Por causa de sua fidelidade agora estão diante do trono do Cordeiro vitorioso, realizando uma liturgia celeste.
Eles nunca mais terão fome porque lhes foi dado o fruto da árvore da vida. Não sentirão mais sede por o Cordeiro-pastor os conduz às fontes de água viva (Ap 7, 17; 21,6; Sl 23,1). Nunca serão queimadas pelo sol (Is 49,10) porque o sol é o Cordeiro (Ap 21,23;22,5). Todas essas imagens, em seu conjunto, significam que a perseguição e os sofrimentos não têm a última palavra, não são a realidade última do ser humano.
“Deus enxugará toda lágrima” (Ap 7,17; 21,4; Is 25,8). Essa seção do Apocalipse pode ser vista como uma resposta à oração sacerdotal de Jesus em Jo 17,21, quando ele orou para que seus discípulos estivessem com ele e vissem sua glória.
III. PISTAS PARA REFLEXÃO
Pedir à comunidade que faça orações e tenha sensibilidade com as pessoas que têm derramado muitas lágrimas. Talvez haja pessoas aflitas e atribuladas na comunidade e ninguém toma conhecimento disso. As pessoas que são discípulas de Jesus têm que estar atentas ao outro. Têm que ir ao “próximo” e lhe dar a garantia de que Deus é solidário com aqueles que estão sob muitas aflições. Insistir que não há ninguém que esteja fora do amor de Deus, por isso deve ser evitado qualquer preconceito.
* Aíla L. Pinheiro de Andrade é membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica. Leciona na Faculdade Católica de Fortaleza e em diversas outras faculdades de Teologia e centros de formação pastoral. (ailapinheiro@bol.com.br)