Segundo Domingo da Páscoa

Segundo Domingo da Páscoa

TESTEMUNHAS DA RESSURREIÇÃO

Tomé

I. INTRODUÇÃO GERAL

As leituras de hoje apresentam três temas importantes: a realidade da ressurreição, a confissão de fé, a relação entre ver e crer. A experiência do encontro com Jesus ressuscitado leva o discípulo a professar: meu Senhor e meu Deus! A profissão de fé resume a caminhada de Israel e da Igreja. Todos os sinais que perpassam a Escritura pedem do leitor uma profissão de fé como a de Tomé.

 

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1.  Evangelho (Jo 20,19-31): Os primeiros discípulos testemunham a ressurreição de Cristo

Na tarde daquele mesmo dia (o da ressurreição), Jesus aparece aos discípulos reunidos. Tomé está ausente. O ressuscitado dá-se a conhecer, dar-lhes o Espírito e o poder de perdoar o pecado, fazendo com que os apóstolos sejam investidos para continuar a sua missão.

“Vimos o Senhor”, dizem os apóstolos para Tomé, mas este não lhes dá crédito. Com essa expressão atribuída aos apóstolos, encontramos o primeiro testemunho eclesial e o querigma da ressurreição.

Tomé não crê no testemunho dos discípulos e pretende uma constatação pessoal, ele simboliza a pessoa que precisa ver para crer. Muitos outros, durante o evangelho, pediram de Jesus milagres para crer em sua pessoa. Mas Jesus lhes disse que não terão outro sinal senão o de Jonas. Esse sinal é dado agora: Cristo ressuscitado está no meio de sua comunidade. Tomé quer atestar sua fé vendo e tocando Jesus. Mas o evangelista chama a atenção para o crer sem ver, baseado no testemunho dos discípulos.

No domingo seguinte Jesus aparece novamente aos discípulos, desta vez na presença de Tomé, e o repreende por sua incredulidade. Jesus mostra-lhe as mãos e o lado para certificar que o ressuscitado é o crucificado, mas está diferente, vive numa nova realidade, além do tempo e do espaço.

O medo transforma-se em alegria. A paz e a alegria são dons do Cristo ressuscitado e ao mesmo tempo, condição para reconhecê-lo. Jesus realiza as promessas feitas aos discípulos, enviando sobre eles o Espírito. A missão a que são destinados continua a missão de Jesus (17,18). Como o Pai enviou seu Filho para perdoar os pecados, assim Jesus envia os discípulos. Ao soprar sobre eles (v.22) expressa a idéia de criação renovada. O Espírito recria a comunidade dos apóstolos e descerra suas portas para a missão.

 

2. I Leitura (At 5,12-16): A ação do Espírito Santo na Igreja testemunha a ressurreição de Cristo

O relato é uma descrição resumida da vida das primeiras comunidades. Os milagres realizados pelos apóstolos ratificam a assistência do Espírito Santo sobre a comunidade, confirmando com sinais a palavra anunciada pelos apóstolos.

A menção ao “Pórtico de Salomão” destaca a proclamação do Evangelho, já que esse local no templo de Jerusalém ficava no átrio dos gentios e era destinado à instrução.

O número dos fieis crescia mais e mais (v.4) e o evangelho despertava o interesse das cidades vizinhas, dando ocasião para que a Igreja se expandisse para além de Jerusalém, extendendo-se pela Judéia.

 

3. II Leitura (Ap 1,9-11a.12-13.17-19): A Igreja testemunha a ressurreição de Cristo até que ele venha

A expressão “dia do Senhor”, no Antigo Testamento, significa principalmente, a intervenção de Deus, através do Messias, no fim dos tempos. Para o Novo Testamento, a ressurreição de Cristo inaugurou os últimos tempos que já estão presentes, embora ainda não tenham chegado à plenitude.

No “dia do Senhor” o Espírito Santo fez com que João, homem atribulado por causa da palavra e do testemunho, contemplasse a atuação do ressuscitado na Igreja.

A comunidade dos seguidores de Jesus, em sua totalidade, simbolizada pelo número sete, recebe a luz de Cristo e a reflete para o mundo. A visão do Filho do Homem em meio ao candelabro de ouro assegura a presença do ressuscitado em sua Igreja até o fim dos tempos.

Seus cabelos brancos simbolizam a eternidade. Seus olhos “como chamas de fogo” representam a visão penetrante, ou seja, seu conhecimento a respeito de realidades que não estão sendo percebidas por mais ninguém. Essas realidades escondidas ao olho natural é que serão reveladas ao ser humano.

Os pés de bronze simbolizam a sua estabilidade inabalável. As sete estrelas são os líderes das comunidades em sua totalidade. Estes estão amparados na mão direita do ressuscitado, que sustenta e mantém a sua igreja.

O Filho do Homem diz palavras de consolo: “não temas!” (v.17). Sua natureza é divina: ele é o “primeiro e o último”, título de Deus no Antigo Testamento (Is 44,6; 48,12).

O texto afirma que o Filho do Homem esteve morto, é o crucificado, mas venceu a morte e possui a vida eterna. Seu domínio se estende sobre os céus, a terra e o reino da morte. Ele controla a história.

 

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

Felizes os que crêem sem ter visto, pois confiam nas testemunhas da ressurreição de Cristo. As pessoas de todos os tempos e lugares encontram nas Escrituras o testemunho dos apóstolos. Mas isso não dispensa um encontro pessoal e íntimo como o ressuscitado. Esse encontro se dá nos locais onde o ressuscitado está presente de maneira mais profunda: a liturgia da Igreja (culto eclesial), na liturgia do coração (adoração pessoal e interior de Deus) e na liturgia da vida (apostolado, compromisso com o outro).

 

* Aíla L. Pinheiro de Andrade é membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica. Leciona na Faculdade Católica de Fortaleza e em diversas outras faculdades de Teologia e centros de formação pastoral. (ailapinheiro@bol.com.br)

 

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