DOMINGO DE PÁSCOA

DOMINGO DE PÁSCOA

OS SINAIS DA RESSURREIÇÃO DE CRISTO

 

túmulo

I. INTRODUÇÃO GERAL

Nas Sagradas Escrituras, um sinal não é simplesmente um evento milagroso, mas algo que aponta para uma realidade de significado mais amplo. Por analogia, é como um sinal de trânsito que serve para orientar os viajantes na estrada, de forma que ninguém erre o caminho ou corra risco de acidentes. Um sinal na estrada faz com que cheguemos a nosso destino sem incorrer em nenhum dano. Nos textos bíblicos, os sinais indicam que Deus está realizando algo que não é percebido por quem não fez a experiência de fé e amor. Os sinais não servem como provas ou argumentos lógicos para convencer ninguém, porque eles somente podem ser percebidos por quem faz a experiência de fé e amor. É esta quem indica que um acontecimento comum é sinal de uma ação de Deus.

 

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1.  Evangelho (Jo 20,1-9): O túmulo vazio

O trecho divide-se em duas cenas no cenário do sepulcro: a visita de Maria Madalena (vv. 1-2) e a visita dos discípulos (3-9).

Na manhã do primeiro dia da semana, antes da alvorada, Maria Madalena vai ao sepulcro, vê a pedra removida e volta correndo para avisar aos discípulos. Ela não entra, mas suspeita que o corpo do Senhor tenha sido roubado.

Diligentemente os dois discípulos correm ao sepulcro. Ambos saem juntos, mas é o outro discípulo que chega primeiro, se inclina para ver as faixas mortuárias, mas não entra. Espera que Pedro seja o primeiro a entrar e o segue para o interior do sepulcro. O Discípulo vê e crê. O evangelho de João atribui ao Discípulo amado a fé na ressurreição de Jesus pela primeira vez.

Observe-se que a forma de ver de Pedro é diferente daquela do outro Discípulo. Pedro vê, mas não crê, ainda que seu ver denote disposição para tal. Enquanto que o “ver” do outro discípulo acompanha a fé, indica a compreensão exata e a verdadeira tomada de consciência. Este ver é propiciado pelo amor. Somente o amor possibilita ver, nos sinais da ausência do corpo, a presença do ressuscitado. Por isso ele crê de imediato.

O crer em João tem o sentido de compreensão do mistério, que é a ressurreição de Jesus, cujos sinais escondem. Aqui os sinais são o túmulo vazio e as faixas deixadas, não de qualquer jeito, mas dobradas.

O autor quer ressaltar a prontidão do discípulo para discernir os vestígios do Senhor ressuscitado. No entanto, o final do texto nos apresenta algo importante. No processo de compreensão da fé no Ressuscitado está presente a Escritura, na qual se atesta a Ressurreição. Somente compreendendo a Escritura é que se poderá chegar ao verdadeiro crer, sem a necessidade do ver. Eles tiveram que ver para crer. Mas o evangelho quer transmitir para sua comunidade que se tivessem entendido as Escrituras não necessitariam do ver.

O evangelho afirma que o itinerário da fé baseia-se nas Escrituras e no testemunho dos apóstolos. Mas é, em última análise, o amor que conduz o discípulo pelo itinerário da fé.

 

2. I Leitura (At 10,34a.37-43): Deus purificou os gentios

Esse relato trata da primeira vez que Pedro se dirigiu a ouvintes não judeus. O texto faz um resumo da vida de Jesus (v. 37-41), a quem Deus constituiu juiz dos vivos e dos mortos (v. 42) e do testemunho dado pelos profetas a respeito de tudo isso (v.43).

Aos judeus foi destinada, em primeiro lugar, a mensagem do evangelho (v. 36). Mas agora o anúncio do Reino é endereçado a todas as pessoas. Quando Pedro reconhece que Deus não faz acepção de pessoas, isto não quer dizer que antes pensava o contrário, pois isto está escrito em Dt 10,17. O que se está afirmando é que, até então, Pedro pensava, como os demais judeus, que os gentios tinham que sujeitar-se à circuncisão e a outros ritos da Lei de Moisés para somente depois terem acesso às bênçãos messiânicas.  Para todo judeu, os gentios, por mais simpatizantes que fossem do judaísmo, eram sempre considerados impuros em relação ao aspecto do culto.

Agora Pedro admite que Deus purificou os gentios e que os apóstolos, testemunhas da ressurreição, receberam o encargo missionário de anunciar a boa-nova a todos os povos.

 

3. II Leitura (Cl 3,1-4): A vida cristã

Nós ressuscitamos com Cristo, afirma o primeiro versículo desse texto. Primeiramente, a ressurreição é tratada como uma realidade que começa já nesse mundo, no tempo presente. Posteriormente é que se destacará a ressurreição como acontecimento do fim dos tempos.

Quem faz a experiência da ressurreição, deve mudar a conduta de vida e também os conceitos intelectuais. “Cuidai das coisas do alto, não do que é da terra” afirma o v. 2. Não se trata de uma orientação para que a Igreja seja “alienada”. Quer dizer que nossa vida é regida pela vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, em contraste com o despendimento de energias com os valores contrários ao Reino de Deus. Significa que a Igreja deve ter as aspirações, que determinam suas ações, embasadas nos ensinamentos e na vontade daquele que agora está entronizado à Direita de Deus.

Do contrário, quando a Igreja valoriza demasiadamente certos aspectos pouco relevantes para o seguimento de Jesus, ela se encontra buscando as coisas da terra. Quem morreu para o pecado recebe a vida nova, a ressurreição, algo que não é visível ao olho natural e por isso a mudança de vida não é compreendida por quem observa tudo apenas pela ótica intelectual. Mas haverá um momento em que a vida ressuscitada será visível e palpável para todos, na segunda vinda de Cristo com poder e glória.

 

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

Destacar que os “sinais” são revelações indiretas dadas pelo Senhor, em contraste com o modo exato de comunicação realizado no nosso cotidiano. Nesse tipo de revelação, situações do dia-a-dia são carregadas por um excesso de significado que desperta a curiosidade das pessoas. Os “de fora” da comunidade percebem “algo mais” quando observam o estilo de vida cristã. É nesse sentido que a Igreja é luz, sal e fermento para o mundo. Resta saber se, olhando para nossas vidas, “os de fora” conseguem receber a revelação de Deus.

 

* Aíla L. Pinheiro de Andrade é membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica. Leciona na Faculdade Católica de Fortaleza e em diversas outras faculdades de Teologia e centros de formação pastoral. (ailapinheiro@bol.com.br)

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