A ALIANÇA NO ÊXODO

A ALIANÇA NO ÊXODO

Por Ir. Jackson Câmara Silva, NJ*

Antes de falarmos propriamente da Aliança entre o povo de Israel e Deus, vejamos alguns pontos gerais a respeito de como seria uma aliança.

Uma aliança é um acordo solene e feito como um ritual religioso. Ela pode ser feita entre indivíduos, entre nações ou entre um deus e o povo, sendo perdurada por todo o tempo. No Antigo Oriente próximo, muitos acordos eram estabelecidos entre o rei e um servo fiel, o qual eles respeitavam os direitos e interesses um do outro. Também havia aliança entre um rei de uma grande nação e os outros das nações menores. Mas a forma mais comum de um tratamento de servidão da antiguidade contém seis partes e pode ser encontrada na Aliança do Sinai (Ex 19 – 24).

Muitos afirmam que a Aliança, que em hebraico se diz berit, entre Deus e seu povo teve seu ponto máximo ou realizou-se no Monte Sinai. Na carta de São Paulo aos Gálatas 4, 24 explicita fundamenta essa afirmação. Mas vejamos que São Paulo estava respondendo à acusação de acabar com a lei de Moisés e por isso teve que enfatizar que essa aliança era a lei. De fato, trata-se mais de uma Aliança legalista, à qual podemos dividir em quatro estágios: 1º Israel prepara para encontrar com Deus e recebe a lei (cf. Ex 19,1-25); 2º Deus dá as leis gerais e principais – os dez mandamentos – (cf. Ex 20,1-21); 3º Deus dá leis específicas (cf. Ex 20,22 – 23,33); 4º Israel aceita a lei de Deus e sela a aliança com Ele (cf. Ex 24,1-18). Válido ressaltar que as leis específicas, compõem o Código da Aliança, lista uma série de conseqüências caso a quebrem enquanto os dez mandamentos – focalizados mais na relação Deus, homem e próximo – não as tem. Tudo isso, se seguido, irá fazer Israel viver essa aliança plenamente. A conclusão da Aliança com Deu se dá quando o povo assume-a (cf. Ex 24,3), selando o pacto com dois rituais: aspersão de sangue sobre o altar, construído por Moisés, e sobre o povo; e a contemplação a Deus seguida de refeição entre Moisés, Aarão e setenta anciãos.

Por outro lado, Gerhard von Rad (estudioso da Bíblia do séc. XX) questionou essa tradição da Aliança do Sinai, e lançou a proposta da primeira aliança ter sido realizada na saída do Egito. São inúmeros argumentos que provam essa afirmação. Primeiramente, Israel é definido como “o povo que Deus tirou do Egito”, expressão presente no próprio Decálogo (cf. Ex 20,1 = Dt 5,6). Toda a história, a contagem dos anos e meses desse povo baseia-se na saída do Egito e não no Sinai. De fato, o fundamento da Aliança é a libertação do Egito. Como se pode fazer uma aliança em que uma das partes (Israel) ainda está completamente comprometida com outro rei? Só os mandamentos romperiam com esse antigo acordo? É saindo da escravidão que o povo começa uma experiência profunda com Deus (cf. Os 11,1; Jr 2,1-6). Além disso, freqüentemente vemos o nome de Iahweh como “aquele que tirou (da escravidão) do Egito (cf. Os 11,1; Jr 2,1-6; Ex 6,7; Lv 11,45; Nm15,41; Dt 5,6). Com isso, a maior infidelidade é querer “voltar para o Egito”. (cf. Nm 11,5; 18,20; 14,2).

Diante disso, como fica a Aliança do Sinai? Trata, sim, de uma lei que é um acréscimo posterior com o objetivo de justificar e proporcionar fidelidade à Libertação do Egito. Não se trata de duas alianças, mas uma só que apresentou tanto seu caráter libertador – verdadeira experiência com Deus – como seu caráter legalista, como é comumente apresentado. Além disso, não podemos deixar de citar que o sumário da Aliança entre Deus e seu povo, frequentemente encontrado no livro dos profetas, consiste em: “Vós sereis meu povo e Eu serei vosso Deus” (cf. Ex 11,20; 14,11; Jr 7,23; 11,4; 24,7; Os 2,25)

Da mesma forma que Deus propôs e fez a Aliança com Israel, Ele quer fazer o mesmo conosco. Antes de fazermos essa Aliança, temos que romper com o acordo da escravidão em nossa vida, o pecado. Tendo uma experiência de intimidade com Ele, ouvindo sua proposta de libertação e aceitando seus mandamentos, selaremos essa aliança e caminharemos, ainda nesse “deserto”, rumo à Terra prometida, o Céu.

 Bibliografia:

Bíblia de Jerusalém – 3ª impressão, São Paulo: Paulus. 2004

The Catholic Bible (personal study edition). New York: Oxford University Press, 1995

TILLESSE, Pe. Caetano Minette de – Revista Bíblica Brasileira nº 3. 1ª ed. Fortaleza: Nova Jerusalém, 1984.
* Membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Licenciado em Física pela UFC e em Filosofia pela UECE. Graduando em Teologia na FAJE-BH e pós-graduado em Formadores para Vida Religiosa no ISTA-BH. Contato: irjackson.nj@gmail.com

 

 

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