A TRADIÇÃO: Bússola segura que norteia o caminho para o futuro!

A TRADIÇÃO: Bússola segura que norteia o caminho para o futuro!

Por Walter Nilo*

Uma cultura só consegue sobreviver se ela estiver intrinsicamente ligada a uma necessidade antropológica de se viver de e em uma tradição, pois nenhuma geração começa “da capo”, isto é, não apaga tudo que a geração anterior construiu, para iniciar outra do nada. A Tradição é dinâmica, enquanto transmissão do conteúdo e no próprio ato de transmitir-se existe a novidade, a mudança, pois as pessoas interiorizam-na para depois exteriorizá-la e fazendo isso colocam sempre o seu “tempero” de forma sútil ou mais acentuado. Por outro lado, há as coisas transmitidas, a forma. Chamada de tradição passiva ou tradições. A Igreja, estando no mundo, sofre essa tensão da tradição humana. Contudo, ela tem sua natureza específica que com suas instâncias controla como as tradições se constituem e se transmitem, haja vista, os sujeitos da Igreja terem funções diferentes das dos sujeitos sociais. É o corpo todo que transmite, mas é o Espírito Santo em última instância que garante a veracidade da tradição. Nesse sentido, o Concilio Vaticano II define Tradição a partir dos planos da revelação de Deus. “Deus dispôs com suma benignidade que aquelas coisas que revelara para a salvação de todos os povos permanecessem sempre íntegras e fossem transmitidas a todas as gerações” (DV 7). O mandato de Jesus, em quem toda a revelação do Pai se completa, aos Apóstolos de anunciarem a Boa Nova do Reino a toda a humanidade, o que os Apóstolos fizeram com a pregação oral, com os exemplos e instituições. Anunciando o que aprenderam de Jesus, suas palavras, gestos e ações. E juntamente com os varões apostólicos, sob a inspiração do Espirito Santo, escreveram o Novo Testamento. Nesses livros inspirados está a transmissão Apostólica. “Reafirmando o vínculo profundo entre o Espírito Santo e a Palavra de Deus, lançamos também as bases para compreender o sentido e o valor decisivo da Tradição viva e das Sagradas Escrituras na Igreja. De fato, Deus ‘amou de tal modo o mundo que lhe deu o seu Filho Único’ (Jo 3, 16)” (VD 17). A Tradição Apostólica da Igreja consiste na transmissão da entrega do Filho de Deus, Jesus de Nazaré, para a salvação do mundo, sempre se atualizando, na comunhão original. Essa realidade sempre atual do dom de Jesus é norma e fundamento para a Igreja, através da sucessão apostólica. A Tradição apostólica é dinâmica não no sentido de mudança, mas porque, como diz o Concilio Vaticano II, “progride na Igreja sob a assistência do Espirito Santo: cresce a compreensão tanto das coisas como das palavras transmitidas, seja pela contemplação e estudo dos que creem, os quais as meditam em seu coração (cf. Lc 2, 19 e 51), seja pela pregação daqueles que com a sucessão do episcopado receberam o carisma seguro da verdade” (DV 8). Essa Tradição é necessária para que a Igreja, no tempo, cresça na compreensão da verdade revelada nas Escrituras. Pois, é ela que nos faz compreender corretamente a Sagrada Escritura como Palavra de Deus, claro que a Palavra de Deus vem antes da Sagrada Escritura e a Sagrada Escritura não a esgota. Mas enquanto inspirada por Deus, está contém a Palavra divina (cf. 2Tm 3, 16). O que a Igreja concebeu como revelação não hauriu somente da Sagrada Escritura, mas também da Sagrada Tradição. Haja vista, a Sagrada Escritura ser a Palavra de Deus enquanto escrita sob a inspiração do Espirito Santo, e a Sagrada Tradição a transmissão integral aos Apóstolos a Palavra de Deus. Assim, a tensão criada pelo mal entendido por parte dos protestantes de verem só na Sagrada Escritura (sola scriptura) a suficiência de toda a revelação foi superada com o Concilio Vaticano II: “A Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só sagrado depósito da palavra de Deus confiado à Igreja” (DV 10). O Magistério da Igreja tem a tarefa de interpretar corretamente a Escritura. Ela escuta, guarda e transmite fielmente por obra do Espírito Santo a todas as gerações o que foi revelado em Cristo. A Verbum Domini afirma que a Igreja vive da certeza de que o Senhor, tendo falado em outros tempos, não cessa de comunicar hoje a sua Palavra na Tradição viva da Igreja e na Sagrada Escritura, enquanto testemunho inspirado da revelação (cf. VD 18). Enfim, a Tradição, como diz Bento XVI, é o rio vivo que nos liga às origens, onde elas estão sempre presentes. O grande rio que nos conduz ao porto da eternidade. No rio vivo da Tradição, Cristo não está distante dois mil anos, mas está realmente presente entre nós e nos dá a verdade e a luz que nos faz viver e encontrar o caminho para o futuro.

 

*Seminarista da arquidiocese de Fortaleza-CE. Graduado em Filosofia pelo seminário de Curitiba-PR e atualmente cursa Teologia na FCF.

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