ROTEIRO HOMILÉTICO 2º DOMINGO DO TEMPO COMUM-ANO B

ROTEIRO HOMILÉTICO 2º DOMINGO DO TEMPO COMUM-ANO B

Por Ir. Pe. Marcus Mariano, NJ*

Passado o tempo do Natal, em que celebramos a encarnação do Verbo e sua manifestação como salvador para todos os povos, encerramos esse tempo com a festa do Batismo de Jesus, na qual Ele assume sua missão e inicia a proclamação do Reino de Deus, convidando o povo à conversão.

Cada domingo é uma Páscoa semanal, o dia do Senhor e uma solenidade própria. No tempo comum, não há uma temática como nos tempos “fortes” (Páscoa, Natal etc.), a mensagem central é a vida ordinária de Jesus, que nos convoca ao seu seguimento e à adesão ao seu plano de amor. Para tanto, precisamos conhecê-lo, experimentá-lo em sua ternura e misericórdia, ir ao seu encontro, atender a sua palavra: “vinde e vede” (Jo 1,39).

Primeira leitura (1Sm 3,3b-10.19)

O trecho da primeira leitura narra o chamado de Deus a Samuel. Aparecem três características da relação entre Deus e o ser humano: a desatenção humana à voz de Deus, a insistência divina no chamado e o efeito da ação de Deus na vida humana.

Samuel dormia no templo do Senhor, próximo à arca, símbolo da presença de Deus, mas nem por isso identifica imediatamente o chamado de Deus. Ele confunde com a voz de Eli, sacerdote naquele tempo. A incompreensão de Samuel é explicada pelo autor bíblico: “Samuel não conhecia o Senhor e ainda não lhe tinha sido manifestada a palavra do Senhor” (3,7). Isto é, mesmo estando no serviço do templo e sabendo do culto a Deus, Samuel ainda não o conhecia o Senhor, no sentindo de ter uma experiência com ele, por isso, não identificava sua voz.

Entretanto, Deus é muito insistente com Samuel e com cada um de nós. A Samuel, o Senhor se dirige três vezes, número muito significativo na Escritura, até que ele perceba e responda: “fala, Senhor, que o teu servo escuta!” (3,10). Este é um traço comum às vocações (cf. Is 6; Jr 1,4-10; Ez 1,3).

Enfim, a transformação gerada pela aceitação do plano divino, expresso da seguinte forma: “E crescia Samuel, e o Senhor estava com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra” (3,19).

Segunda leitura (1Cor 6,13c-15a.17-20)

A presença de inúmeras imoralidades, inclusive de ordem sexual, caracterizava a cidade de Corinto. Por isso, as instruções de Paulo (1Cor 5-6) acerca da nova conduta que os coríntios deveriam ter devido a fé em Cristo.

Paulo se opõe à mentalidade comum naquela comunidade de equiparar as necessidades sexuais às necessidades de alimentação (6,13). O corpo é para o Senhor e não para a fornicação (em grego porneia, que significa as desordens na moral sexual). Isso torna o ser humano escravo dos próprios instintos, esquecidos da liberdade doada por Cristo.

O corpo, como lugar da sexualidade (6,18;7,4), não deve ser marcado pela fornicação, pois o crente pertence ao Senhor com todo seu corpo e se torna o corpo de Cristo (6,15). A corporeidade é o lugar onde a fé é visível, por conseguinte, o corpo não fica à disposição arbitrária de alguém, mas é templo do Espírito Santo e destinado a ser lugar de glorificação (6,20), portanto, glorifiquemos a Deus em nossos corpos.

Evangelho (Jo 1,35-42)

João Batista veio para dar testemunho da luz (1,7.15; 3,26-30) e este é o seu testemunho: “Eis o cordeiro de Deus!” (1,36). A este testemunho, seguem os primeiros discípulos de Jesus que vão e veem onde Ele mora (1,38).

Embora haja algumas semelhanças narrativas com Mc 1,16-20, o quarto evangelho apresenta a vocação dos primeiros discípulos numa configuração particular. A primeira característica é a apresentação dos primeiros seguidores de Jesus como seguidores do Batista, demonstrando que o discipulado do Batista é doravante o seguimento do Cristo (cf. Jo 3,22-30). Outra característica é o caráter sapiencial desta cena: a terminologia procurar-encontrar, a iniciativa de Jesus antes da pergunta dos discípulos e o convite a “permanecer” com Ele.

Há ainda um segundo momento no trecho do evangelho, introduzido pela expressão de tempo: “a décima hora” (1,39). Passado o calor do meio-dia, antes do por do sol, um dos dois, André, avisa seu irmão, que entra na dinâmica do seguimento de Jesus. A busca dos discípulos tem a resposta no Messias, que eles dizem ter encontrado: “encontramos o Messias” (1,41), demonstrando, com isso, uma profissão de fé e um reconhecimento do esperado pelo povo de Israel.

O apelo de Jesus continua. Assim como a Samuel, a André, a Cefas e a tantos outros na história da humanidade, Deus continua a se autocomunicar. Em meio a diversos barulhos e as muitas vozes que gritam na contemporaneidade, somente a voz de Deus dá sentido a nossa existência, nos atrai para si e nos convida a permanecer. Jesus nos olha e diz: “vinde e vede”.

 

* Graduado em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), onde também cursou mestrado  em Teologia Bíblica. É recém-ordenado sacerdote do Instituto Religioso Nova Jerusalém onde também exerce a função de mestre de noviços do mesmo.

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