Solenidade de “Maria, Mãe de Deus”.
Nm 6, 22-27; Sl; Gl 4, 4-7; Lc 2, 16-21.
Primeira Leitura:
Provavelmente seja este um dos poemas mais antigo e belo da Escritura. Originalmente uma benção familiar; quando da sedentarização do povo judeu passa a ser uma benção essencialmente sacerdotal.
Esta perícope é colocada estrategicamente neste ponto do livro para a benção do povo que marcha em direção da terra prometida, evocando assim a benção de Deus sobre todo o Israel. A proclamação desta oração pelo sacerdote era, pois uma garantia de que de fato o Senhor iria por seu nome sobre os filhos de Israel.
O sacerdote é a personificação daquele canal da benção de Deus a seu povo no final de cada dia enquanto o povo era peregrino no deserto, depois, quando chega na terra prometida na liturgia do templo e das sinagogas.
A repetição do nome do Senhor significa que Deus é a fonte de todos os benefícios chegados aos homens. Para o povo judeu ser abençoado por Deus era ter muitos filhos, muitas propriedades e terras, além de boa saúde e da certeza da presença de Deus como luz e princípio de tudo. Sendo assim, todos que estão sob a proteção de Deus estão salvos de todas as mudanças e circunstâncias dessa vida mortal. Deus mesmo o livrará de seus inimigos, doenças e pecados. Outro aspecto dessa benção é o desejo de paz, todavia para o judeu, paz não significa como para nós ocidentais, tão somente a ausência de conflitos externos, mas um bem estar interior e exterior pleno: sem guerras, sem conflitos interiores, sem doenças, sem tristezas, sem nenhuma espécie de mal. Enfim, estar abençoado por Deus é ter certeza da salvação.
Segunda Leitura:
Nessa pequena perícope Paulo expressa com maestria sua cristologia. Quem é Jesus? É o Filho de Deus, e que, apesar dessa prerrogativa nasce como todo ser humano: de uma mulher. E é justamente aqui que encontramos o grande mistério e ao mesmo tempo a coisa mais simples que foi a sutileza da encarnação de Jesus; Ele nos vem como todo homem e mulher chega a esse mundo, no seio de uma família; um Deus humano.
E a encarnação desse Deus não foi algo acidental, pois já estava determinada sua chegada dentro da economia da salvação; Deus apenas esperava o momento certo para enviar seu Filho ao mundo.
Também um tema trabalhado por Paulo neste texto é a liberdade. Esse Deus-humano veio resgatar o ser humano de todo tipo de escravidão. Jesus oferece dois tipos de liberdade, a primeira é a liberdade ante a lei judaica, e a outra liberdade é aquela plena que somente Ele nos oferta, que é a liberdade a partir de sua filiação divina ascender a humanidade a filhos e filhas adotivos de Deus.
Todavia essa filiação só se confirmará quando o seguidor do Ressuscitado fizer a experiência com o Espírito Santo, posto que, somente quem faz a experiência com o Espírito é que pode ser verdadeiramente herdeiro/herdeira de Deus.
Lucas 2, 16-21.
Os pastores se deparam com uma cena no mínimo estranha: um rei anunciado pelos anjos nasceu em uma estribaria tendo por companhia seus pais e os animais do lugar e tendo por leito o local onde os animais comem (manjedoura). Lucas com propriedade o coloca neste local como uma prefiguração da Eucaristia: Jesus como o alimento de sua igreja.
A figura do rei recém nascido significa que o reinado apenas começava e que o mesmo precisará de um longo caminho para ser construído por seus súditos.
A expressão: Maria guardava tudo no coração, poderia talvez significar que a mãe de Jesus poderia ser uma das testemunhas oculares que deram a Lucas tantas riquezas de detalhes em suas narrativas.
Os pastores, como testemunhas oculares, proclamam agora o nascimento do pequeno rei e a vinda de seu reinado.
No último versículo vemos José e Maria, como bons judeus cumpridores da lei, indo ao templo para consagrarem seu primogênito a Deus.
Estas narrativas preservadas na igreja primitiva evocam uma maior reflexão do significado da missão de Jesus Cristo.
QUANDO A PALAVRA SE FAZ VIDA:
O tema de nossa liturgia para o primeiro domingo de 2012 é a maternidade. A figura de Deus como mãe que abençoa seus filhos, na segunda leitura a mãe que trouxe o Filho de Deus ao mundo e mais especificamente no Evangelho a cena encontrada pelos pastores; do pequeno rei sendo velado por sua mãe, seu pai e os animais na estribaria.
A esta temática da maternidade queremos nos remeter à Igreja como mãe. A Igreja é essa mãe que desde os apóstolos nos apresenta Jesus como rei e Senhor da história.
E dentro deste anúncio, a mãe igreja deve estar consciente que, apesar de anunciar um rei, deve fazê-lo com simplicidade e austeridade. Nunca deve esquecer que apesar de Rei, Cristo nasceu na pobreza de uma estribaria, que foi acolhido em seus primeiros momentos de vida por simples pastores.
Este é, pois, a principal tarefa a meu ver da mãe-igreja: ser a autêOlá irmãOlántica seguidora do Cristo pobre e abandonado da cruz.
E esse seguimento se faz quando ela está do lado do pobre, do sofredor, do marginalizado. Pois a verdadeira mãe é aquela que cuida com mais carinho daqueles filhos e filhas mais carentes, mãe é aquela que acolhe e nunca exclui nenhum de seus filhos, por mais errado que o mesmo esteja.
Ir. Ana Alencar, nj
Fortaleza, 30 de dezembro de 2011.