Recensão de Jacques Ménard sobre a tese de Padre Caetano

G. Minette de Tillesse. O Segredo Messiânico no Evangelho de Marcos (Lectio Divina, 47), 13 X 21 cm, 576 p., Edições du Cerf, Paris, 1968.

A referida tese de licenciatura do Padre Gaëtan (Caetano) foi defendida no Pontifício Instituto Bíblico de Roma em 1956 e transformada em livro na França em 1968.

Para Wrede, o segredo messiânico de Marcos foi uma projeção inconsciente da fé pascal na história de Jesus. Para Minette de Tillesse, ele é uma elaborada tese deste Evangelho. Basta comparar, por exemplo, certas passagens de João, assim como 16,25. Estes últimos sugerem que Cristo falou em parábolas, mas João não expõe um sistema, apenas o supõe. Pelo contrário, o pensamento de Marcos é uma teoria, uma teologia sistemática, uma insistência que remonta a uma atitude real do próprio Cristo, e essa atitude foi intencional e deliberada; correspondia ao plano divino: a salvação deveria ser realizada pela Cruz (p. 512-516). Se Wrede deu com a sua doutrina o pontapé inicial ao método “Formgeschichtliche” [moldar a história], é novamente graças a este último, mas desta vez ajudado pelo “Redaktionsgeschichte” [história editorial], que se pode unir ao Cristo da história.

Apesar de tudo de bom que poderíamos dizer sobre a tese de T. A. Burkill, “Revelação Misteriosa:Um Exame da Filosofia do Evangelho de São Marcos”(cf. R.H.R, out.-dez. de 1965, p. 182-184), acreditamos que o livro de Minette de Tillesse preenche a falta de lógica que Burkill reprovou no evangelista. A “bipolaridade” deste último é explicada por uma intenção teológica. Seu trabalho está dividido entre duas tendências: o desejo de mostrar a glória de Cristo ressuscitado já está presente durante o seu ministério terreno e a afirmação da necessidade de Cristo sofrer. Entre esses dois pólos, não há outro elo teológico que o da causalidade: o sofrimento precede a glória por uma espécie de retribuição dos contrários (p.18).

Mas, como ele mesmo admite, seu estudo não é um ponto final. Assim, ele não pôs o seguinte problema: o que Marcos 16,9-20, que a tradição manuscrita primitiva omite, não explicou nesse contexto da pretensão de Marcos em sistematizar o segredo messiânico de Jesus? Este final realmente não seria de Marcos — ela não teria desaparecido —, ela seria das mãos de um redator. Na verdade, ele se apresenta como um resumo das aparições de Cristo ressuscitado, tanto é que seu estilo nada tem de concreto e pitoresco de Marcos.

Revista de Ciências Religiosas da Universidade de Strasbourg, França, 1971.

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Fonte: Ménard Jacques E.* G. Minette de Tillesse, Le secret messianique dans l’Évangile de Marc (Lectio Divina, 47), 1968. In: Revue des Sciences Religieuses, tome 45, fascicule 2, 1971. p. 170-171 [tradução nossa].

*Jacques Étienne Ménard nasceu em 1923, presbítero da Diocese de Montreal, ordenado em 1947. Professor de História das Religiões na Universidade de Estrasburgo desde 1965. Doutor em teologia católica (Estrasburgo, 1967). Difusor e tradutor de textos coptas da antiguidade para o francês, especialmente do siríaco.

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