33º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

33º DOMINGO DO TEMPO COMUM – ANO C

LEVANTAR-SE-Á O SOL DA JUSTIÇA

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I. INTRODUÇÃO GERAL

A liturgia de hoje aborda o tema do julgamento, mostrando que Deus não pode ser manipulado nem comprado. O “tribunal” de Deus não favorece uns em detrimento de outros. Por isso, quem clama por justiça verá que ela acontecerá. No entanto, em Deus justiça e misericórdia andam juntas e não são contrárias uma da outra. Deus é justo sendo misericordioso e é misericordioso sendo justo.

O tema do julgamento está vinculado ao do último dia. Muitas pessoas temem falar sobre esse assunto, mas a liturgia nos adverte que é necessário estar sempre preparados enquanto o Senhor não vem. A ênfase dada pelos textos não se concentra no medo do inferno nem em eventos históricos desastrosos nem em cataclismas da natureza. Os textos focalizam a ação de Deus na destruição do mal e na implantação da justiça sobre a terra e na ação dos cristãos, a saber, dar o testemunho de fé.

 

II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1.  Evangelho (Lc 21, 5-19): Não tenhais medo

O texto de hoje utiliza-se de um recurso literário muito usado na apocalíptica judaica, o testamento de herói. É uma das formas de mostrar a continuidade da história, do plano divino da salvação em tempos difíceis. Consiste, principalmente, em discursos do pseudoautor antes da própria morte/ascensão, nos quais desvela o futuro dos destinatários e faz exortações a que permaneçam na fidelidade a Deus. Por meio desse recurso literário o verdadeiro autor interpreta, para os seus contemporâneos, os acontecimentos desastrosos e assegura-lhes que Deus os fará os fieis vitoriosos sobre o mal.

O texto começa com a observação sobre o templo de Jerusalém, e prossegue com a afirmação de Jesus de que tudo será destruído. As palavras de Jesus querem responder a duas perguntas: quando vai acontecer e quais os sinais indicativos da proximidade do fim dos tempos. Essas perguntas são fundamentais para as comunidades do final do século I d.C.

Jesus diz aos discípulos quais são os sinais, estes não são uma indicação da proximidade do fim dos tempos, mas uma garantia de que certamente a parusia virá. Por isso, os discípulos não devem ter medo diante dos rumores sobre o fim, pois o dia e a hora não são conhecidos. Enquanto a parusia ( a vinda de Cristo) não acontece, os discípulos são exortados à fidelidade, principalmente em tempos de perseguição, como é desenvolvido nos vv. 12-17. Contudo, o mais importante é saber que quando chegar o fim será pelo testemunho de fé que os discípulos serão salvos.

 

2. I Leitura (Ml 3, 19-20a): Sereis livres

O texto de Malaquias enfrenta o problema o mal, ou seja, vendo que o malvado prospera enquanto o justo sofre, é compreensível se fazer certas perguntas: que vantagem há em ser bom? De que vale praticar os mandamentos?

A resposta encontrada pelo profeta é que Deus cuida de nós, isto é, não estamos sozinhos quando sofremos e no “Dia do Senhor” a justiça triunfará.

O autor do texto usa a imagem do fogo reduzindo uma árvore a cinzas, para afirmar que o mal será completamente eliminado do mundo, não restará mais nenhuma maldade, nem seus ramos nem suas raízes (3,19).

A Bíblia também se serve do simbolismo do sol para enfatizar a mesma ideia. No contexto em que o profeta vivia o sol era tido como dispensador de calor e de vida, de luz e de justiça porque sempre brilha para todos. Quando amanhecer o “Dia do Senhor”, a justiça vai brilhar e o último rastro de maldade será varrido da terra.

 

3. II Leitura (2Ts 3, 7-12): Permaneçais firmes

Para a mentalidade dos Tessalonicenses, o ser humano se realiza essencialmente na sua dimensão espiritual alienada das realidades terrenas. O trabalho manual era visto como algo degradante. Partindo da mentalidade judaica, o autor afirma que a condição corporal do ser humano não é algo negativo como se fosse um castigo, portanto, o trabalho manual dignifica o ser humano.

Os espiritualistas, que apregoavam o final dos tempos para breve, estavam criando um clima de ansiedade e de tanto frenesi que não havia mais lugar para as tarefas cotidianas. O autor convoca os tessalonicenses para permanecer firmes tendo o Apóstolo como exemplo.

O autor da Carta não é um fanático, ainda que espere ardentemente pela volta de Jesus ele exorta os cristãos a viverem na fidelidade a Deus e a comprometer-se plenamente com suas tarefas e obrigações terrenas.

Quando essa carta foi escrita, não somente o ensinamento de Paulo, mas a própria vida do apóstolo exercia uma influência muito grande dentro da comunidade, a ponto de ele ser citado como exemplo a ser imitado.

 

III. PISTAS PARA REFLEXÃO

Os textos de hoje tem o objetivo de animar os cristãos em sua caminhada de fé mediante os desafios enfrentados em circunstâncias de perseguição. Quer incentivá-los a permanecer fiéis e a dar testemunho de sua fé, enquanto esperam a vinda gloriosa de Jesus Cristo.

A imagem que o evangelho apresenta sobre catástrofes não deve ser tomada ao pé da letra. São imagens próprias do gênero literário apocalíptico. Querem ressaltar a mudança radical que acontecerá com a chegada do Reino de Deus. Esse simbolismo apenas enfatiza que o “mundo” presente, dominado pelo mal, será destruído para que surja então, um mundo novo, onde o mal não existe.

É importante deixar claro que a justiça divina não se assemelha a dos homens (facilmente manipulada pela vingança, por leis excludentes e distorcidas). Deus não se deixa manipular por ninguém. Sua justiça é temperada com misericórdia.

Também se deve dar um destaque para o v. 8: “Tomai cuidado para não serdes enganados”. O que se quer ressaltar com isso é que os cristãos não devem se deixar enganar por discursos sensacionalistas que pregam o fim do mundo, fruto de uma leitura literal desse texto bíblico. Nem tampouco se deixar seduzir por doutrinas que semeiam o medo de um juízo implacável de Deus. Esse tipo de doutrina gera fanatismo e uma vida alienada da realidade, na qual se busca uma via de “santidade” fora do mundo, sem nenhum comprometimento com a transformação da realidade pelo testemunho de uma vida em Deus.

 

* Ir. Aíla Pinheiro é  Mestra e Doutora em Teologia Bíblica pela FAJE – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte – MG

 

 

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