Por Ir. Jackson Câmara Silva, NJ*
O conceito de juventude não se limita a períodos etários simplesmente, mas perpassa o âmbito biológico, social, histórico e cultural.
No aspecto biológico, a juventude inicia com as transformações do corpo na puberdade para culminar na capacidade de reprodução, transformações intelectuais e emocionais e se finda na fase adulta. Entretanto isso está vinculado ao aspecto sócio, histórico e cultural que vem sofrendo variações ao longo de décadas. Se na concepção clássica da sociologia o fim da juventude era marcado pelo término dos estudos, vivência do próprio trabalho, saída da casa dos pais tornando-se responsáveis por sua própria moradia, casar e ter filhos[1], nos tempos atuais isso tem mudado significativamente. Mesmo com a conclusão dos estudos, agora universitários, e com a vivência do próprio trabalho, os jovens da pós-modernidade continuam morando na casa dos pais. Unindo-se, na maioria das vezes sem vínculo institucionalizado, e tendo filhos, ainda se observa os jovens na casa dos pais ou quando “saem”, constroem seus lares nas cercanias desses.
A pós-modernidade provocou profundas mudanças na sociedade, inclusive na concepção de juventude. Essa se apresenta agora como pleno desenvolvimento humano e não mais como estágio preparatório para a vida adulta, segundo E. Hobsbawm.[2] As instituições, uma vez responsáveis de acolher e servir os jovens, deixaram-nos desamparados haja vista sua fragilidade: “Por falta de contraste a nova geração teve problemas em construir sua identidade. Os formatos familiares emergentes impunham aos jovens um amadurecimento precoce, o que tornava mais independentes e ‘individualistas’.”[3]
Com isso, as relações sociais também mudaram. Com o advento da internet, os jovens anseiam em expandir suas relações que não se limitam mais aos espaços físicos que frequentam, mas encontram a extensão quase que infinita do espaço virtual. O mundo agora se apresenta sob a forma de uma tela de computador! As novas formas de relacionamento virtual podem facilmente invadir a privacidade das pessoas e provocar certa perda de intimidade. Juntamente à internet, cresce o número de jovens que utilizam o celular. Com essas novas formas de comunicação, também surge no meio deles um medo de não estar conectado e corre-se o risco de privilegiar essa forma de relacionamento em detrimento da presencial. É claro que não se pode condenar essa realidade irreversível. Entretanto, esses tipos de relações “não são fortes o suficiente para superar crises, desencontros e dificuldades inerentes a toda as reações humanas.”[4]
Além desse medo, a juventude se depara com mais dois grandes medos. O primeiro se trata do medo de morrer frente à violência que cresce assustadoramente. Os assassinatos entre adolescentes e crianças no Brasil, por exemplo, aumentaram em 346% nos últimos trinta anos, enquanto os homicídios de um modo geral cresceram 259%.[5] O segundo consiste no medo de sobrar e de ser excluído frente ao desemprego e a injustiça social.
Diante desses medos, inseguranças, crise de identidade, o jovem muitas vezes se encontra desamparado, tentando se equilibrar entre a proteção e a liberdade que são falhas nas instituições, mas assumidas e tecidas pela modernidade e globalização. No embate entre os meios de comunicação em massa e os pais e educadores que referência o jovem segue? Como construir sua identidade em porto seguro? Que medidas tomar para que se possa ao menos amenizar as lacunas deixadas pelas instituições como Estado, Igreja, Família…?
O desafio ultrapassa a juventude e requer ajuda de profissionais no âmbito da psicologia, teologia, sociologia dentre outras ciências que poderiam servir de grande ajuda na orientação dos jovens e dos adultos inseridos no meio da juventude que a acompanham. Além disso, lutar por mudanças sócio-políticas do Estado e buscar novos métodos de trabalho para lidar com o mundo juvenil são medidas imprescindíveis para os tempos atuais.
[1] CARDOZO. Juventude, religião e neoliberalismo,3. RIBEIRO cita que Olivier GALLAND reduz a três fatos marcantes da vida adulta: começo da vida profissional, saída do lar de origem e a fundação de uma família. Além disso, ainda apresenta outra realidade: mesmo os jovens morando longe dos pais, continuam a depender material ou afetivamente deles. (RIBEIRO, Religiosidade jovem,118)
[2] HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das Letras, 2000. In (RIBEIRO, Religiosidade jovem,114)
[3] RIBEIRO, Religiosidade jovem,122
[4] CNBB, Campanha da Fraternidade 2013: Texto-Base, n.38
[5] “Mapa da violência 2012” in CNBB, Campanha da Fraternidade 2013: Texto-Base, n.107, nota
* Membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Licenciado em Física pela UFC e em Filosofia pela UECE. Graduando em Teologia na FAJE-BH e pós-graduado em Formadores para Vida Religiosa no ISTA-BH. Contato:jack22nj@hotmail.com