Por Pe. Johan Konings, SJ**
A primeira função da Sagrada Escritura, do ponto de vista cristão, é pôr as pessoas em contato com a pessoa e a obra de Jesus de Nazaré. Costumo aconselhar como primeiro passo a obra em dois volumes de Lucas, o Evangelho e os Atos dos Apóstolos, porque tratam de Jesus e de sua comunidade, que são inseparáveis. Além disso, Lucas é um excelente narrador, um grande romancista, sensível ao ambiente judaico de Jesus, por exemplo na bela evocação da infância, e sensível também à perspectiva dos não judeus, sobretudo em Atos. Outra abordagem possível é o Evangelho segundo João, sobretudo para pessoas com grande sensibilidade pelo simbolismo e pela contemplação. O que Lucas descreve em cenas vivas, João o diz em palavras de profundidade universal, superando tempos e culturas. Pode-se começar também com Marcos, que propõe a mensagem em torno de Jesus de modo mais direto e incisivo, deixando o leitor descobrir em que sentido Jesus é o Cristo, a saber: Servo sofredor! Quanto a Mateus, sua preocupação com a instrução dos fiéis de tradição judaica faz com que não seja tão simples quanto parece. E não se pode deixar de conhecer o grande pregador Paulo, mas é preciso colocar-se na pele dos seus leitores e não dos teólogos do século XVI! Importa tentar ler com os olhos dos primeiros destinatários! E para isso é preciso migrar para o tempo deles. Em torno do Jesus do Novo Testamento, deve-se entrar em contato, aos poucos, com o Antigo Testamento, que faz conhecer as tradições culturais e religiosas de Jesus e de seus seguidores – a Torá de Moisés, os Profetas. Para os primeiros cristãos, que eram judeus, o Antigo Testamento serviu de referência para reconhecer a paradoxal missão messiânica de Jesus: em Jesus se cumpriram as antigas Escrituras. Sobretudo, vale curtir os Salmos, que são a oração de Jesus e de seu povo e continuam oração dos cristãos, apesar de algumas expressões que, à luz de Jesus, precisam de correção. De qualquer maneira, o Antigo Testamento deve ser lido à luz de Jesus.
* O tema deste artigo foi adaptado de uma entrevista realizada Informativo-ITF (Inst. Teológico Franciscano) ao Pe. Konings, SJ em 25/10/12 na XIII SEMANA TEOLÓGICO PASTORAL (PUC-Rio, IFITEPS e ITF).
** Padre Jesuíta possui Licência em Filosofia (1961), Licência em Filologia Bíblica (1967) e Licência (1967) e Doutorado em Teologia (1972, título 1977), pela Katholieke Universiteit Leuven. Professor de Novo Testamento na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE) em Belo Horizonte-MG, que em 2011 lhe conferiu o título de Professor Emérito.