24º Domingo do Tempo Comum – Ano B

24º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Por Glêvison Felipe L. Sousa*


A liturgia do 24º Domingo do Tempo Comum revela a atitude do Servo Sofredor, modelo para os discípulos e discípulas missionários. A loucura da Cruz se torna para o cristão sinal de esperança, quando olhamos para a Cruz com uma lógica do Espírito e não “segundo os critérios carnais.” (2Cor 10, 2). Essa esperança acompanha o cristão no caminho do seu calvário terreno e de suas tribulações, quando ele não esquece da companhia de Cristo nesses momentos de provação. Assim, nós percebemos o sentido do sofrimento em nossas vidas. A partir dessa experiência pessoal com o Ressuscitado, o cristão pode responder à pergunta fundamental que é feita aos disscípulos: “Quem é Jesus?”; e a partir da resposta anunciá-lo como salvação para o mundo.

1ª Leitura (Is 50, 5-9a)

O texto descreve o terceiro canto do Servo Sofredor, que não recua diante das dificuldades e aceita com amor os sofrimentos decorrentes da sua fidelidade a IHWH. A razão da sua esperança é a sua inabalável fé naquele que o justifica, diante de qualquer tribunal acusador (v. 8). Quem compreende a sua missão aceita as dificuldades do caminho, por isso mesmo, tem certeza da vitória (Rm 8,31).

2ª Leitura (Tg 2, 14-18)

Somente com boa vontade não se aliviam os sofrimentos dos necessitados. Uma palavra de amor não faz efeito sem atitudes de amor. A palavra amor na Bíblia não significa um mero sentimento ou simples atração, mas significa uma atitude de vida, gestos concretos, ações, promoção do outro e serviço ao próximo (1Jo 3,18; 4,20-21). Neste sentido, compreende-se por que a Igreja indica o sacramento do Matrimônio como sacramento de serviço, pois se trata da entrega de um para o outro no amor que é serviço. É a atitude máxima de Cristo, que por amor se entregou plenamente ao projeto do Pai. Por isso, Tiago nos chama atenção aqui, para a coerência entre Fé e Vida, inseparáveis na vida do Cristão e que se torna nos dias de hoje um grande desafio a ser superado. Não adianta professar a fé com os lábios, se a vida não concorda com o que se diz.

Evangelho (Mc 8, 27-35)

A primeira parte do Evangelho de Marcos (1,16-8,30) é dedicada à questão: “Quem é Jesus?”. Por causa de seu ensinamento e seus milagres e exorcismos, os discípulos até pressupõem a personalidade dele, que tem características mistéricas (v.28). Pedro, como porta-voz do grupo, dá a resposta em forma de profissão de fé, proclamando-o Cristo, ou seja, o Messias esperado pelo povo de Israel, demonstrando saber quem era Jesus. A segunda parte de Marcos (8,30-16,8) apresentará a maneira de Jesus ser o Cristo: como servo sofredor e filho do Homem.
Os discípulos são impedidos de anunciá-lo, se não compreendem o sentido que Jesus dá à sua messianidade e as conseqüências desse anúncio (v.31). Eles esperavam um revolucionário, alguém que fosse libertar os judeus da dominação romana. Entretanto, Jesus fala da sua paixão, do seu sofrimento e da sua morte (v. 31). Pedro, não compreendendo de imediato, é repreendido (v.33) e convidado ao seguimento e à descoberta da maneira de Jesus ser o Cristo. Esse versículo, em outra tradução, diferente da do Lecionário, deve ser: “Vai para trás de mim, Satanás…”. Essa era uma atitude do discípulo: ficar atrás do mestre e segui-lo para perceber suas atitudes e imitá-lo.
“Tu não pensas como Deus, e sim como os homens…” (v.33). Se pensamos somente a partir dos critérios da carne (2Cor 10,2), ou seja, se colocamos o sentido da nossa vida somente nas coisas e esforços humanos, não vamos compreender a proposta de Jesus para quem deseja ser seu discípulo ou discípula missionários, que é renunciar a si mesmo, tomar a sua cruz cotidiana e segui-lo. Jesus não promete facilidades de uma religião confortável e intimista onde se procura Deus somente para satisfazer minhas necessidades, numa relação mercantilista e comercial, como se o cristão estivesse livre dos problemas. Para esses, a Cruz até hoje continua sendo uma loucura e um escândalo: “…nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, que para os judeus, é escândalo, para os gentios é loucura, mas para aqueles que são chamados – a serem discípulos – tanto judeus como gregos, é Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus.” (1Cor 1, 23-24)

_____________________________________
* Glêvison Felipe L. Sousa é graduado em Engenharia Civil. Concluiu o Curso de Teologia Pastoral na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE-BH.  Membro do Movimento Bíblico Nova Jerusalém em Vespasiano (MG), atualmente é candidato ao diaconato permanente na Arquidiocese de Belo Horizonte.

Voltar ao Topo