Roteiro homilético 19º DOMINGO COMUM

Roteiro homilético 19º DOMINGO COMUM

CRISTO, O PÃO VIVO DESCIDO DO CÉU

Por Aíla L. Pinheiro de Andrade, NJ*

 (originalmente retirado da revista Vida Pastoral, Paulus )

I. INTRODUÇÃO GERAL

O alimento e a água dados por Deus ao profeta Elias, que restaura as forças e o sustenta na longa caminhada até a Montanha de Deus é uma transparente figura da Eucaristia e do Batismo que dão a vida eterna e sustentam o cristão no caminho para Deus. A conseqüência prática disso é que a caminhada do cristão consiste na configuração da própria vida à vida de Cristo, andando no amor e doando-se a Deus e ao próximo.

 II. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS

1. Evangelho (João 6, 41-51): Quem comer deste pão viverá eternamente

Jesus é o pão da vida, aquele que come deste pão terá a vida eterna. E vida eterna não é a mesma coisa que vida pós-morte. Vida eterna significa uma vida reconciliada com Deus. Vida essa que já começa aqui, numa existência orientada para Deus, em profunda união com ele, e que se prolonga após a morte.

Nesse sentido, quem come deste pão não morrerá. Isso não diz respeito à morte física, porque esta faz parte da realidade humana, como ser histórico, finito, contingente. O não morrer, no sentido cristão da palavra, significa que a morte como ruptura definitiva com Deus foi abolida. Se na existência humana histórica se pode viver em união com Deus, essa união não termina com a morte. Esta se transforma em passagem para uma vida plena, em que o filho retorna à casa do Pai. Se o cristão vive sua vida reconciliada com Deus, então até mesmo a morte torna-se sua aliada, e não uma realidade terrível à qual o ser humano tenta desesperadamente evitar. Como Jesus enfrentou sua morte de cabeça erguida, em Jesus nós enfrentamos a morte como vencedores, pois temos nossa vida em Deus.

Quando Jesus afirma “e o pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo”, ele se refere à entrega que faz de si mesmo na cruz para a vida do mundo. Como a existência integral de Jesus foi vivida em profunda união com o Pai em prol da humanidade, sua entrega na cruz não é um evento pontual, mas o resultado de tudo que ele ensinou e viveu. Por que ele se entregou à humanidade durante sua vida inteira, pode entregar-se finalmente na morte. A existência inteira de Jesus foi oferta agradável ao Pai em prol do ser humano.

O conhecimento deste mistério será acolhido por todos os que vieram a Jesus. Porque serão instruídos pelo Pai, verdadeiros discípulos de Deus, seus seguidores. Ser discípulo de Jesus é a mesma coisa que ser discípulo de Deus, porque o Filho e o Pai estão unidos em solidariedade pela salvação do mundo. O ensinamento que os discípulos aprendem vem do Pai através da vida de Jesus.

 2. I Leitura (I Reis 19,4-8): Come deste pão! Porque o caminho é superior às tuas forças

O profeta Elias vagava em fuga pelo deserto adentro. A certa altura encontrava-se cansado por ter passado longos dias e noites na viagem. Além do cansaço, ele estava exausto pelo forte calor do sol; sentia fome e sede e, além disso, oprimia-lhe a solidão do deserto. Nesse estado de coisas só lhe restava dizer “Agora basta, Senhor!” (v. 4). Ele pediu para morrer; embora isso pareça uma contradição já que estava fugindo da rainha Jezebel para preservar a vida dele.

Elias está fazendo um êxodo ao contrário, pois durante quarenta anos o povo foi do deserto para Israel e agora o profeta vai da terra prometida à Montanha de Deus. E assim como aconteceu aos antepassados a quem o profeta chama de “pais” (v. 4), Deus providenciou alimento e água para manter a vida do profeta. O texto menciona que o alimento era “pão assado na pedra”, ou seja, o alimento cotidiano de vários povos orientais (cf. Gn 18,6).

Com o alimento e a água Elias sentiu-se confortável e quis ficar ali acomodado, dormindo. Mas recebe uma ordem para levantar-se (mesmo termo que significa “ressuscitar”) e dirigir-se até à Montanha de Deus. O texto afirma que o profeta andou quarenta dias, fortalecido pelo alimento e pela água, numa clara alusão aos quarenta anos que os hebreus haviam passado no deserto alimentados pelo maná e pela água tirada da rocha. Elias necessitava chegar à Montanha, lugar onde Deus havia confirmado a aliança feita com os patriarcas e seus descendentes e adotado as tribos de Israel como povo escolhido (cf. Ex 3,1).

 3. II Leitura (Efésios 4,30 – 5,2): Cristo por nós se entregou como oferta de suave odor

A expressão “não entristeçais o Espírito Santo” parece estranha. O termo usado também quer dizer “provocar dor” ou “causar pesar”. Essa é uma maneira de se expressar simbolicamente e significa que os cristãos não devem fazer o oposto daquilo para o qual receberam a unção do Espírito Santo.

O Espírito Santo na vida do cristão é o selo de Deus. Antigamente se marcava uma propriedade com um emblema que identificava o dono. Um exemplo atual são os objetos da paróquia, comumente marcados com um carimbo ou etiqueta para indicar a instituição proprietária. O Espírito Santo assegura que somos propriedade do Senhor, e que devemos ser empregado completamente no serviço de Deus. Não se deixar usar por Deus é oposto daquilo para o qual o Espírito Santo nos foi dado. Até que chegue “o tempo da redenção”, ou seja, o nosso encontro definitivo com o Senhor, devemos trilhar nosso caminho com firmeza de propósitos e testemunho de vida sem nunca nos cansarmos de fazer o bem.

Como as crianças gostam de imitar os pais e é assim que aprendem as coisas do dia-a-dia, da mesma forma os cristãos deveriam seguir o exemplo de Deus. Mas como é possível imitar a Deus? O que significa isto? A resposta está no versículo dois: “andai no amor, como também Cristo nos amou e se entregou por nós a Deus como oferta e sacrifício de suave odor”.

O termo “oferta” significa qualquer oferecimento pelo qual se expressa gratidão por tudo (todas as graças) que se recebe da benevolência de Deus. “Sacrifício” quer dizer aquilo que se oferece quando se perde, por causa da ruptura do pecado, as graças recebidas de Deus. Por fim , a expressão “de suave odor” significa estar de acordo com o que Deus ordenou, diz-se do sacrifício que agrada a Deus ou que ele aceitou com prazer.

 III. PISTAS PARA REFLEXÃO

O pão e a água, figuras da Eucaristia e do Batismo, têm o objetivo de levar o cristão a entrar em aliança com Deus, fazer a experiência da ressurreição. É um alimento que fortalece na caminhada rumo a Deus. Não nos é dado para que fiquemos acomodados na sombra, mas para enfrentarmos os rigores do deserto. A vida que Cristo nesse mundo foi vivida no amor. Com esse estilo de vida, Cristo demonstrou gratidão, ofereceu-se para superar a ruptura do nosso pecado, e agradou a Deus em tudo. É esse tipo de vida que Cristo nos dá e é assim que devemos viver.

Nesse dia em que se celebra a vocação de constituir família, em especial, que homenageamos os pais, é bom enfatizar o relacionamento filial que Cristo nos ensinou a ter com Deus. Os meios visíveis (sacramentos) que nos introduzem nessa filiação e, principalmente a ação de Deus, para efetivar esse relacionamento filial. O alimento material é apenas um sinal de tudo que Deus realizou em nosso favor como Pai amoroso.

* Aíla L. Pinheiro de Andrade é membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), onde também cursou mestrado e doutorado em Teologia Bíblica. Leciona na Faculdade Católica de Fortaleza e em diversas outras faculdades de Teologia e centros de formação pastoral.

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