Roteiro Homilético: 11º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Roteiro Homilético: 11º Domingo do Tempo Comum – Ano B

Por Glêvison Felipe L. Sousa*

A liturgia do 11º Domingo do Tempo Comum nos convida a contemplar nossa caminhada no mundo com confiança e esperança. Deus, fiel ao seu plano de salvação, continua a agir na história humana, para uma meta de vida plena e de felicidade sem fim. Para isso, o ser humano que crê colabora como mero agricultor, semeando o broto do Reino na espera confiante de que Deus complete a obra.

1ª Leitura (Ez 17, 22-24)

Por volta do ano de 597, ocorre o cerco de Jerusalém. O rei Joaquin se rende a Nabucodonosor depois de três meses de reinado. A conseqüência é a primeira deportação para a Babilônia, sendo Joaquin substituído por Sedecias, que se revoltou contra Nabucodonosor e também não foi fiel à Aliança de IHWH (2 Rs 24,19). Essas infidelidades geraram conseqüências terríveis, onde “…Judá foi exilado para longe de sua terra.” (2 Rs 25, 21b). Mas isto não tira de Deus a possibilidade de continuar em Israel a obra de salvação. Usando alegorias da agricultura, Ele tem o poder de fazer germinar, nem que seja de um pequeno broto, uma frondosa árvore, que na imagem do texto é o cedro. O cedro é uma árvore majestosa, abundante principalmente em altitudes entre os mil e dois mil metros, ou seja, é uma árvore da montanha. Outra qualidade é que sua folhagem é perene, mesmo no inverno. Por isso, destaca-se das outras, que estão abaixo, na planície. Apesar da infidelidade, IHWH pode restaurar Israel (fazer germinar de um pequeno broto), porque Ele sempre é fiel à Aliança. A fidelidade constante de IHWH pode ser comparada à folhagem perene do cedro, que mesmo nos “invernos” da infidelidade do povo, as folhas não caem. Nessa dinâmica, Deus exalta os humilhados (“elevo a árvore baixa”) e depõe os poderosos (“abaixo a árvore alta”).

2ª Leitura (2 Cor 5, 6-10)

O ser humano é digno de toda pena, se colocar suas esperanças unicamente nas coisas do mundo, já que elas nunca irão satisfazê-lo plenamente. A nossa fé cristã responde a isso, apontando para uma realidade maior e definitiva, que não vemos agora, mas já começamos a experimentar (cf. 1 Cor 2,9). A vivência da fé nos permite peregrinar no “exílio” deste mundo, sem nos deixar levar por alguns de seus esquemas que são contrários ao reino de Deus, para chegarmos cheios de esperança na glória que nos aguarda.

Evangelho (Mc 4, 26-34)

Ouvimos hoje duas pequenas parábolas do Reino: a parábola da semente que germina por si só e a parábola do grão de mostarda. A pergunta fundamental é: o Reino de Deus vai germinar no mundo? A isso Jesus responde, mudando o foco da ação.

Havia uma expectativa messiânica dos judeus nesse tempo. Muitos grupos se formaram, esperando o Messias e a instauração do Reino, realizando práticas segundo as suas intuições. Jesus simplesmente corrige tais expectativas, afirmando que o Reino é obra de Deus e não dos homens. De fato, vendo o texto, nas duas parábolas, observamos que a ação humana é menos significativa, pois o Reino é dom de Deus. Muitas vezes, esperamos que nossas ações, inclusive na vida eclesial, frutifiquem imediatamente. Isso pode gerar frustração, porque o tempo e o modo de germinação ocorrem sem “…sabermos como.” (Mc 4, 27). Paulo teve consciência disso, quando afirma categoricamente: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem faz crescer” (1 Cor 3,6). Essa virtude da paciência dos colaboradores de Deus acontece à medida que eles perceberem que a iniciativa é de Deus, e a instauração do seu reino não é consequência do mero esforço humano. Caso o homem durma ou fique acordado (v. 27) o resultado é o mesmo.

Porém, essa atitude paciente não denota passividade ou descompromisso, esperando que o reino de Deus caia do céu, como ato mágico! O Cristão deve continuar trabalhando para a construção do Reino, com mentalidade nova: consciente de que Deus age nele, chamando todos para trabalhar na messe, como e quando quer, na primeira ou na última hora (Mt 20,15) servindo-se de cada um de nós, para que possamos trabalhar sem atribuir-nos o mérito de nada. A atitude é de entrega confiante e humilde, sem a pretensão de ver o resultado.

Observamos ainda que a ação do Reino é por vezes escondida, agindo ocultamente como o fermento na massa. Muitas vezes revela-se nas pequenas coisas e nos pequenos gestos, fazendo-se frágil como um pequeno broto de cedro ou uma simples semente de mostarda. E o resultado final é a maravilha inexplicável dos frutos que serão ceifados na colheita escatológica, onde todos que semearam poderão desfrutar do banquete prometido por Deus, para aqueles que o amaram.

 

* Glêvison Felipe L. Sousa é graduado em Engenharia Civil. Concluiu o Curso de Teologia Pastoral na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE-BH. Membro do Movimento Bíblico Nova Jerusalém em Vespasiano (MG), atualmente é candidato ao diaconato permanente na Arquidiocese de Belo Horizonte.

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