Roteiro Homilético – 4º Domingo da Quaresma – Ano B

Roteiro Homilético – 4º Domingo da Quaresma – Ano B

Roteiro Homilético – 4º Domingo da Quaresma – Ano B – 18/03/2012

Glêvison Felipe L. Sousa*

 

Neste IV domingo da Quaresma (“laetare”), a Palavra divina bate em nosso coração trazendo a alegria de um grande anúncio: “Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16) e nos leva a descobrir a presença de Deus nos altos e baixos da vida, onde ele continua a ter iniciativa na sua obra salvífica, apesar das infidelidades humanas. É um convite para fazermos uma experiência teologal (experiência de Deus) cada vez mais profunda, fixando nossos olhares em Jesus Cristo, que é o maior dom de amor entregue pelo Pai.

 

1ª Leitura (2 Cr 36,14 – 16.19-23)

O contexto da leitura é o final do período monárquico em Israel. Ele nos apresenta o Juízo Global sobre a infidelidade do povo, fazendo-o refletir sobre os acontecimentos da história. É a experiência de um povo exilado, que perdeu as suas referências de Deus: o Templo, o Sacerdócio e a Terra. Mas, a palavra final não é do sofrimento: o povo é convidado a ter esperança e a lembrar sempre das obras do Senhor (cf. Sl 78,7).

Os versículos finais coincidem com o início do livro de Esdras (), já relatando o retorno do Exílio e a reconstrução do Templo. Anunciando o futuro e demonstrando o primado da iniciativa divina, o Senhor vai reerguer o “resto de Israel”, através de um pagão estrangeiro – Ciro – que não conhece o Senhor (cf. Is 45,1ss); e os que permaneceram fiéis terão a consolação divina, solidificando a fé no Deus vivo.

Salmo responsorial (Sl 137)

É o “canto do exilado”, evocando a queda de Jerusalém no ano 587 e o Exílio da Babilônia.

A maior alegria do Judeu é ir ao Templo (cf. Sl 122,1). O povo – estando exilado e sem Templo – é estimulado a não perder a esperança e relembrar essas alegrias (v. 6).

 

2ª Leitura (Ef 2,4-10)

A nossa salvação vem pela fé em Jesus Cristo, e não pelo nosso esforço em consegui-la. É dom gratuito do Pai, que restaurou nossas vidas em Cristo. Configurados a Ele, somos novas criaturas (cf. 2Cor 5,17). Assim, nos fez passar das trevas para a luz; ressuscitou-nos com ele. Morre quem se entrega ao egoísmo e não se abre à riqueza da Graça, maravilha de amor que deve manifestar-se também na vida dos que foram renovados.

 

Evangelho (Jo 3,14-21)

O trecho de hoje se posiciona na segunda parte do diálogo de Jesus com Nicodemos, sobre o Filho do Homem enviado pelo Pai.

O texto faz um paralelo com o trecho da serpente de bronze no deserto, elevada por Moisés (cf. Nm 21,4-9). Os hebreus deviam olhar para a serpente elevada na haste, para não morrerem pelo seu pecado. A serpente de bronze era o “sinal” para que Deus lhes perdoasse o pecado e pudessem continuar vivos. Assim também o Filho do Homem foi elevado e glorificado junto do Pai, para que possamos olhá-lo e reconhecê-lo como o enviado do Pai.

A partir da figura desse evento bíblico, Jesus revela a Nicodemos a necessidade salvífica (“necessita”) que Ele mesmo seja levantado no madeiro da cruz, em uma espécie de identificação vicária e reparadora com a serpente – pecado: “Aquele que não conhecera o pecado, Deus o fez pecado por causa de nós, a fim de que, por ele, nos tornemos justiça de Deus “(2 Cor 5,21).

A nossa “justificação” consiste em uma espécie de “gravidez” da natureza humana na morte de Cristo, graças à qual cada um de nós foi regenerado Nele para a vida nova do Espírito Santo. Nenhum homem da história humana foi excluído deste renascimento “do alto”, mas só a vida daqueles que não querem fazer o mal pode ser efetivamente regenerada. De fato, Jesus diz a Nicodemos: “quem faz o mal odeia a luz e não vem para luz, para que suas obras não sejam demonstradas como culpáveis. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, para que se manifeste que suas obras são feitas em Deus” (Jo 3,20-21).

A glória do Filho do Homem, para João, se dá na elevação sobre a cruz. O que vemos, quando dirigimos nosso olhar para a cruz, onde Jesus está pregado? (cf. Jo 19,37) Contemplamos o sinal do amor infinito de Deus pela humanidade. Crer no Filho do Homem “elevado”, Unigênito de Deus, é também crer no amor do Pai, que deu seu próprio Filho para que fôssemos resgatados. Amor incondicional de Deus, não porque somos merecedores ou exigimos a salvação. Mas em primeiro lugar porque Deus é Amor, bondade e ternura. A iniciativa é dele. Assim, o seu Amor é traduzido em obra de salvação para nós. O Filho “elevado” deu-nos livre acesso ao Pai (cf Mt 27,51), sem os anteparos que impedem uma verdadeira experiência de Deus. O acesso continua livre. Cabe a nós darmos o próximo passo ou ficarmos condenados à paralisia do nosso orgulho e auto-suficiência.

Viver a nossa fé é fazer experiência pessoal com aquele que “…é o iniciador e o consumador da nossa fé, Jesus.” (cf. Hb 12,2).  Assim, com os olhos fixos nele, caminhamos das trevas deste mundo para a luz. Deixemos nos iluminar, sem medo da claridade que faz aparecer a verdade de nossa vida, ainda que vivida em meio às contradições e fragilidades que sempre nos acompanharão.

 

 

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* Glêvison Felipe L. Sousa é graduado em Engenharia Civil. Concluiu o Curso de Teologia Pastoral na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE-BH.  Membro do Movimento Bíblico Nova Jerusalém em Vespasiano (MG), atualmente é candidato ao diaconato permanente na Arquidiocese de Belo Horizonte.

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