Por Ir. Marcus Mariano, NJ*
LEVANTE-TE E VAI!
Cada domingo é uma Páscoa semanal, o dia do Senhor e uma solenidade própria. No tempo comum, a temática central é a vida cotidiana de Jesus, com seus ensinamentos em palavras e ações, que nos convoca ao seu seguimento e à adesão ao seu plano de amor. Para tanto, precisamos confiar e nos aproximar dEle que nos diz: “Levanta-te, toma teu leito e vai para tua casa” (Mc 2,11).
1ª Leitura: Is 43,18-19.21-22.24b-25
Esse pequeno trecho de Isaías narra belamente a relação entre Deus e Israel. O Senhor já demonstrou muito amor por meio dos prodígios do êxodo, entretanto, maravilhas maiores acontecerão em breve: o retorno à terra prometida.
A segunda parte do livro de Isaias (40-55), também chamada de dêutero-Isaias, situa-se em um contexto histórico próximo à restauração de Israel, ao final do penoso drama do exílio babilônico, no qual Nabucodonosor, por volta de 587 aC, deportou parte do povo de Israel para Babilônia. Assim, essa parte de Isaías sublinha a renovação de todas as coisas por Deus. O povo viverá num novo momento mais esplendoroso do que o anterior, o futuro será mais glorioso do que o passado.
A primeira parte do nosso texto (43,18-21) mostra a novidade do agir divino em favor de Israel para que Israel proclame os louvores do Senhor. Na segunda parte (43, 22-25), enaltece-se o perdão divino como reação de Deus à infidelidade do povo. Deus desconsidera o pecado do seu povo porque o ama e em vez de castigos, Ele realiza uma novidade surpreendente.
Se muitas vezes nos escondemos de Deus por medo e vergonha dos nossos pecados, a Escritura apresenta outra atitude divina: o perdão e a restauração, sinais do amor gratuito de Deus.
2ª Leitura: 2Cor 1,18-22
O trecho é a justificativa do adiamento da visita de Paulo a Corinto e um testemunho da veracidade de seus ensinamentos e de seu compromisso comunitário.
O Cristo Jesus anunciado por Paulo é o sim de Deus (realização das promessas) para a humanidade e o sim a Deus (obediência e fidelidade ao plano do Pai) em prol da humanidade.
Como Cristo foi total sim a Deus e como somos verdadeiros discípulos de Jesus, também devemos ser fieis. A fidelidade de Jesus nos chama a sermos fieis para que se realize em nós o plano de Deus.
Por isso, dizemos “amém” à Palavra de Deus, na liturgia que celebramos. Essa palavra significa isto é verdade, digno de confiança. Jesus Cristo é o nosso “amém” (cf. Ap 3,14), isto é, expressão da resposta de fé à Deus
Evangelho: Mc 2,1-12
Marcos relata o retorno de Jesus a Cafarnaum (2,1), depois de uma passagem por outras cidades da região da Galileia (1,39). Jesus continua sua missão de proclamação do Reino de Deus e muitos se aglomeravam para ouvir a Boa Nova (2,2).
O presente milagre encerra uma série de milagres, acrescentando uma novidade: a força do Espírito Santo atuante em Jesus não vence apenas doenças físicas ou mesmo psicossomáticas, mas também o fardo do pecado. Desse modo, Jesus expressa a Boa-Nova. O Reino anunciado não consiste apenas em palavras, mas também em atos. Da mesma maneira que lemos na primeira leitura, o perdão divino vem acompanhado de uma nova realidade de vida.
Muitos foram os que acorreram a Jesus, conforme a narrativa de Marcos, e Jesus anunciava-lhes a Palavra. A atitude de fé do paralítico com seus amigos, que ousa se aproximar do mestre é admirada (2,5). Por esse motivo, Jesus perdoa. Entretanto, havia escrupulosos desconhecedores da atuação de Jesus que, incomodados, acusam-no de blasfemo, porque só Deus perdoa os pecados.
Jesus perscruta o coração humano (para as Escrituras, sede de conhecimento e da percepção) e demonstra sua missão e identidade de Filho de Deus, agindo como Deus mesmo e ordenando: “levanta-te, toma teu leito, e anda para tua casa”. Com isso, todos se admiravam e glorificavam a Deus por nunca terem visto coisa igual (2,12).
Na liturgia, a Palavra é proclamada e vamos ao encontro de Jesus. Em vez de temores e receios, carreguemo-nos e aproximemo-nos com confiança desse mestre admirável em palavras e obras, que fala e age em nome de Deus e como Deus. Tudo aquilo que nos limita ao serviço (nossas paralisias) deve ser apresentado a Jesus, para escutarmos dele: “levanta-te e vai”. O encontro com Ele nos impulsiona a continuarmos a missão dEle.
O encontro com Cristo e a acolhida do seu perdão provoca uma vida nova que se demonstra em novas atitudes concretas de amor ao próximo e empenho na transformação desta nossa realidade em outra ainda melhor, conforme os parâmetros do Evangelho.
* Graduado em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje), onde também cursou mestrado em Teologia Bíblica. É recém-ordenado sacerdote do Instituto Religioso Nova Jerusalém onde também exerce a função de mestre de noviços do mesmo.