por Ir. Franklins Marques Torres, NJ*
Definição
A palavraeucaristia deriva da palavra gregaeucharistén – “dar graças”. Portanto, eucaristia significa “ação de graças”. O contexto retoma a beraká judaica.
“O nosso Salvador instituiu na última Ceia, na noite em que foi entregue, o Sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até Ele voltar, o Sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é concedido o penhor da glória futura.” (Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium, N. 47).
O Santíssimo Sacramento eucarístico tem duas dimensões inseparáveis e complementares: é sacrifício e ceia.
Eucaristia Como Ceia
A refeição é de importância capital para o homem bíblico, visto ser um povo de economia basicamente agro-pecuária, que vivia em lugar de condições climáticas duras. Ela possui dois sentidos, sendo o segundo o que mais se destaca:
· Felicidade
Os autores mencionam fartos cardápios com os quais ninguém se privou, um dia, de sonhar. É alegoria da era messiânica um banquete de manjares e vinho novo (Is 25, 6; Jr 31, 12.14).
· Unidade
É à mesa que a célula familiar toma consciência de si mesma. No entanto, a família não é o único grupo que se reúne e se encontra à mesa; outras comunidades humanas fazem a mesma experiência (Sl 128, 3; Jz 1, 7; 1Sm 9, 22-24).
Devemos ir mais longe ainda. Visto que, o ato de comer se acha estreitamente ligado à subsistência do indivíduo e do grupo, este gesto se reveste de um significado que ultrapassa seu alcance biológico e até social. A refeição acaba finalmente por adquirir uma dimensão metafísica e um valor religioso.
O pão é necessário à vida; o homem depende, pois, de seu alimento, mas também daquele que o proporciona. E a relação entre o pão e a palavra é tão estreita no Antigo Testamento porque, obrigado pela natureza a receber o pão que Deus lhe dá, o homem toma consciência de sua dependência e se torna disposto a aceitar Palavra.
Eucaristia Como Sacrifício
Atualmente a maioria dos exegetas estão convencidos de que a festa da Páscoa não começou de modo absoluto no Êxodo, mas que, nesses momentos históricos, revesti-se de uma nova significação. Existia provavelmente, no tempo dos patriarcas, uma festa que já se chamava pesah: quando os nômades, na primavera, se preparavam para deixar seus acampamentos em busca de outras pastagens, ofereciam às divindades um sacrifício para pedir a fecundidade para os rebanhos e, de modo mais geral, a proteção contra os poderes “exterminadores” simbolizados pelo “flagelo destruidor” (Ex 12,13). Os seres mais ameaçados eram os recém nascidos que, pela primeira vez na vida, empreendiam uma viagem uma tanto arriscada. Então, para conjurar a violência ameaçadora, separava-se um desses animais nascidos a pouco, a fim de lhe conferir o poder sagrado, e depois o chefe da família o imolava. O sangue do animal servia de sinal de reconhecimento para o flagelo destruidor, que poupava as tendas marcadas com o sangue do animal: essa talvez, a origem da palavra “páscoa”; com efeito, em hebraico existe um verbo pesah que significa “mancar”, portanto, “saltar” por cima das tendas e “poupar”.
Toda a força libertadora, salvífica e espiritual da antiga páscoa judaica passaram à páscoa cristã que na Eucaristia encontra sua plena realização, mas com a novidade fundadora e componente básico, o próprio Cristo, o qual lhe deu um novo significado, assumindo e continuado o anterior. O rito pascal judeu prolongava no tempo a páscoa do Êxodo que era a libertação de Israel e sua eleição como povo santo.
Agora, a Igreja vê no sacrifício pascal de Cristo a plena e total libertação do homem, sua redenção da escravidão, sua elevação à santidade. A Igreja, perpetuando no tempo essa páscoa, antiga e nova, recolheu todo seu potencial libertador, oferecendo-o a todo homem. E como a páscoa judaica consistia em um rito, e a cada ano se faz memorial dela, assim ocorre com a páscoa: morte-ressureição de Cristo, ritualizada sacramentalmente emnossa Eucaristia como sacrifício perpétuo.
O Ágape
O relato mais antigo que possuímos da ceia do Senhor, é a perícope paulina 1Cor 11, 17-34. Um texto bem específico de uma situação particular, mas que nos pode dar uma visão segura de como eram a “fração do pão” na era apostólica. Muitas vezes no Antigo Testamento se denuncia um culto invalidado pela situação de injustiça dos participantes (Is 58 denuncia o jejum; Jr 7 a transformação do Templo em “covil de ladrões”) e de modo semelhante, a falta de caridade invalida a eucaristia cristã. Pode até haver sim, uma reunião comunitária, mas não há “banquete do Senhor”.
A “ceia do Senhor”, celebrada nas casas particulares e apropriadas, costumava ser precedida de uma ceia em comum, à qual os bastados levavam suas provisões. Sem esperar que chegassem os mais necessitados e atrasados, comiam e bebiam, de modo que aos pobres restavam as sobras. Nesse ponto, com uns satisfeitos e até ébrios e outros famintos, procediam-se à celebração eucarística. E esta era ocasião de descriminação entre pobres e abastados, com fome e humilhação dos necessitados. Uma divisão grave, na qual culminavam as facções e processos mencionados anteriormente nesta epístola (1, 10-17; 6, 1-11). Seria melhor cada um comer em sua casa e depois reunir-se para a liturgia (melhor ainda esperar e partilhar).
Conclusão
“Enquanto durar a sua peregrinação aqui na terra, a Igreja é chamada a conservar e promover tanto a comunhão com a Trindade divina como a comunhão entre os fieis. Para isso, possui a Palavra e os sacramentos, sobretudo a Eucaristia; desta “vive e cresce”, e ao mesmo tempo exprime-se nela. Não foi sem razão que o termo comunhão se tornou um dos nomes específicos deste sacramento excelso.” (Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia de João Paulo II, N.34, pág. 47).